Sinto que devo acreditar que o Pai Natal existe.
É a única forma de compreender a razão por que ele nunca me oferece nada no dia de Natal.
Talvez porque eu nunca lhe dei nada. O Pai Natal é vingativo.
Como acredito no Pai Natal acredito também na existência do Céu e do Inferno.
Sem dúvida. Como todos os católicos, acho que o céu está repleto de anjos vestidos de branco, em forma de mulher, é claro, onde tudo está em paz, em cima de nuvens brancas, com "água do luso" à discrição.
Como acredito que no Inferno existe fogo, monstros e mulheres nuas. Agora fiquei com dúvidas. Se existe fogo como é que alguém lá pode sobreviver. O fogo destrói. Se tudo está destruído, como é que se pode ir lá parar?
Realmente ir para o céu e ter de aturar o Carlos Padre Mateus, o Salazar Pereira e outros, não me parece aquilo que se possa chamar uma boa ideia.
Eu acho que esses, e outros que por aí andam a pregar a solidariedade e a religiosidade, têm a certeza que vão para o Céu.
Trabalham para isso. Eu acho que quem trabalha para ir para o Céu merece.
Eu acho que é preciso fazer algo nesta vida para merecer a outra.
Por exemplo: O Carlos Padre Mateus que dá cursos de casamento.
Um homem assim, benfeitor, deve ir para o céu.
Já aquele, ou aquela, que após o curso se divorcia deve ir para o Inferno, porque não seguiu os ensinamentos do Carlos Padre.Salazar Pereira, como outro exemplo:
Salazar Pereira tem lugar garantido no Céu.
Alguém pode questionar esse facto?
Então o Provedor da Santa Casa da Misericórdia havia de ir para o Inferno?
É a Santa Casa. Não é uma Casa qualquer.
Eu acho que Salazar Pereira está consciente, ou melhor, tem a certeza que vai para o Céu.Todos queriam ser o Salazar Pereira para ter a certeza de que vão para o Céu.
No fundo, é tudo uma questão de inveja.
Eu acho que quem passa os dias na Santa Casa fala com Deus. Tem que falar. A Casa é Santa. Se é Santa, Deus anda por lá. Pode até estar disfarçado de Lopenhos ou de Magala, mas estar está, de certeza.
Se não estivesse acabava a santidade da casa, porque tudo tem um custo e o custo da Santa Casa sem Deus era insuportável. Eu estou convencido que Salazar Pereira não acredita na existência de Céu e Inferno, muito embora seja frequente vê-lo rezar em público.
Se assim fosse, face ao que rouba, Salazar ia para o Inferno. Só que ele sabe que o Inferno não existe e então rouba à desgarrada.
Estava eu com estes pensamentos precisamente em frente à tal casa que foi doada à Santa Casa, e que os pedantes da “personalite com dois n’s” colocaram à venda.
O leitor repare bem na foto.
Esta casa situa-se na Avenida dos Banhos uns metros a norte do Guarda-Sol, cujo cheiro a molho de francesinha é insuportável.Uma casa destas, que sobreviveu à catástrofe que foi o terramoto da construção civil na cidade, deve custar cerca de um milhão de euros. Não acha o leitor?
Quem doa uma casa destas e doa à Santa Casa, ainda por cima, vai para o Céu de certeza absoluta.
Melhor ainda. Vai lá ter tratamento VIP. Tudo luxuoso.
Ou acham que Deus ia tratar este fulano como trata aqueles que dão um cordão de ouro, 10 euros ou umas calças usadas?
Este é um cliente especial.
Salazar Pereira, cofiando o seu hitleriano bigode, aconselhou:
Num me dês a mim comum mortal. Dá antes à Santa Casa, senão vais tu e vou eu para o inferno da prisão. Agora vai lá à tua vida e que Salazar, digo, Deus te abençoe.
Era muito descaramento o Salazar ficar com a esta casa.
Não fiquem com pena dele. O homem safa-se.
Safa-se ele, safam-se os outros que com ele lá estão, e agora até as assistentes sociais da Segurança Social se querem safar e safam-se, ao que tudo indica.Grandes desavergonhadas!
Até eu me safava se lá estivesse.
Eu acho que não devemos condenar estas pessoas que se safam na vida.
A nossa obrigação é trabalhar para acumular fortuna e deixar para a Santa Casa, o Salazar Pereira, a mulher, a filha e todos os outros que se querem safar.
Nem todos se podem safar como se safa o Rambo e, mais ainda, o Magala.Esses estão legitimados pelo voto popular para se safarem.
Quem lá os pôs que os tire.Eu não os critico. Se estivesse no lugar deles também me safava.
Até podia ir para o Inferno, mas tinha o Céu enquanto vivo.
Não seja ranhoso leitor.
Se não pode dar uma casa como esta à Santa Casa, arrisca-se a ir para o Inferno.
Fui andando para sul.
De repente dou de caras com a esplanada do Brandão, antiga glória do Varzim, e provavelmente a maior cabeça da sua história, Varzim.
Repare leitor que não estou a dizer isto por qualquer rancor para com o homem.
Ele é uma cabeça e tanto.
Conseguiu enganar a Câmara toda, desde o Presidente aos fiscais.
Não é qualquer pessoa que consegue esse feito.
Lembrem-se que o Magala gaba-se de ninguém o enganar, mas não se gaba de enganar os outros, mas o Rambo é fino como um rato, porque mama às escondidas.
O Brandão enganou-os a todos. Mas não se gaba disso.
Repare bem o leitor na esplanada do Brandão.
Ocupa meio passeio e ainda parte do estacionamento.
Será que ele paga diariamente aquilo que a Câmara auferiria com o dito espaço, se o mesmo estivesse disponível para estacionamento?
Garanto uma coisa:Eu não me sentava ali.
Suponha o leitor que um qualquer tipo vem disparado de sul para norte e se enfaixa na dita esplanada.
Dificilmente alguém sobrevive ao impacto sem mazelas para o resto da vida.
É que depois, mesmo indo para o céu, de que vale isso se um tipo está aleijado?
Ao passar junto à porta estava ele, Brandão, com o rolo da massa.
Enganaste-os bem Brandão, disse eu.
Conheço-te de algum lado pá, disse Brandão a bater com o rolo na mão.
Foste o melhor avançado de sempre do Varzim, Brandão, disse eu.
O homem, coitado, já me queria convidar para entrar.
Obrigado Brandãozinho, mas vou ali ao Tony do Mostarda comer uma sandes mista e um galão, disse eu já longe, não fosse o gajo perder a cabeça.
Um tipo como o Brandão quando perde a cabeça perde tudo, porque ele vive da cabeça, ele usa a cabeça, ele enganou a Câmara toda.
Fui a caminhar pela Praça João XXIII, também conhecida por “praceta” e, ao chegar ao Tony dou de caras com o Tone. Atenção Tony não é Tone. Não é qualquer um que usa Tony, mas Tone são muitos.
Eu acho que o Tone vai para o Céu.
Um tipo que arranja emprego para a sobrinha é um benfeitor.
É o único aspecto que eu critico no trabalho do Salazar Pereira:
É falta de critério na escolha dos benfeitores.
Tone devia receber uma medalha pelas benfeitorias que praticou.
Há quem diga que ele vai para o Inferno. Sinceramente não acredito.
De repente tropeço e caio estatelado na relva em frente ao café do Tony, o Mostarda.
Fosda-se, disse eu, mas perdi perdão imediatamente porque pretendo ir para o Céu.
Estás perdoado, disse logo Tone, muito solícito, fazendo lembrar os tempos em que quando estava pendente o processo-crime por abuso de poder, em que ele e o Rambo foram condenados, dirigiu-se a todas as associações, com a “esposíssima esposa”, para se inscrever e, desse modo, transmitir publicamente a ideia de benfeitor.
O Tone tem que ir para o Céu. Ele e o Rambo juntos, com o champanhe que não gastaram quando a sentença foi proferida pelo Juiz: CONDENADOS!
Que merda é esta Tony? Gritei eu.
Fosda-se. Um vaso no meio do caminho pá? Disse eu de cabeça perdida e já pronto para andar à pancada.
O leitor veja a foto e diga, do fundo do seu coração, se eu não tenho razão.O Tony colocou um vaso no caminho para as pessoas não poderem atravessar.Vais pró inferno, disse-lhe eu ainda com os pensamentos na dicotomia.
Que foi Tony? Disse ele.
Que foi Tony, digo eu, respondi eu, claro.
Deixaste uns euros na Câmara seu sacana, disse-lhe eu.
Sabes que a gente tem sempre lá uns amigos e tal. Aqui o Tone. Disse ele a olhar para o Tone.
O Tone engasgou-se com os tremoços que estava a comer.
Que vai ser Tony?
Traz-me um galão morno e uma sandes mista, sem manteiga. Ouviste bem?
Já trago Tony. Disse o Tony que não sou eu.
Neste entretanto e enquanto observava o Tony a preparar a sandes reparei que ele não usa chapéu de cozinheiro.
Acho obrigatório.
Com aquele cabelo pastoso e os óculos a caírem-lhe para o nariz, é obrigatório o uso de chapéu.
Não é nada, não é nada, mas pode vir um cabelo junto.
Ou então que contrate um cozinheiro.
Nem esperei. Fui embora.
Ainda pensei ir ao Torreão do ex-sócio do Tony, o Nelo, mas quando me lembro que ele vai para a casa de banho ler o jornal “A Bola” durante 30 minutos pensei:
Já ninguém consegue ler o raio do jornal. E fiz o sinal da cruz, por causa do raio.
Antes de ir para casa preparar-me para a naite, ainda passei no Tony da sapataria, um velho amigo, para ver se comprava um calçado moderno, na moda.
Então Tony? Estás em forma? Eu a perguntar ao outro.
Estava melhor se pusessem uma cobertura na Junqueira. Disse o Tony.
De uma cobertura precisas tu nessa cabeça careca. Disse-lhe eu.
O homem ficou meio envergonhado.
Que é que tens aí prá naite? Perguntei eu.
Tony, tenho aqui estas sandálias modernas. É o último grito. Até eu já as uso.
Mostra. Isto vende na Feira do Roque Santeiro, pá.
Já nem comprei nada. Levei os meus velhos sapatos que tanto sucesso fazem entre o mulherio.
À noite fui para a “naite”, o que é algo diferente: Noite é noite, naite é naite.
Um amigo, o Zé Numfodenemsaidecima, disse-me: Aparece Tony. Eu controlo a naite na Póvoa.
Outro. Pensei cá com os meus botões.
O Zé é um tipo que toma banho às 3 da tarde e vai almoçar em seguida, sempre a olhar para o relógio.
Tem lógica a atitude dele. Se às 3 da tarde tem o cabelo molhado é porque se deitou tarde e se deitou tarde é porque a naite rendeu e se a naite rendeu é porque controla.
Não é qualquer um que controla na naite.
Há os que dizem que controlam, mas é só garganta.
O Zé Numfodenemsaidecima controla. Isso é um dado objectivo. O que controla é que não se sabe.
À noite pensei: Onde raio vou jantar?
Será que existe algum restaurante decente na Póvoa.
As pessoas falam muito no “Nosso Café”, ali ao lado das Finanças.
Sinceramente. Acho que a maioria não sabe o que é comer bem.
Há uns quinze dias saí do “Nosso Café” com a roupa a cheirar a comida.
No interior aquilo parecia uma sauna.
Para quem, como eu, tem sempre companhia feminina disponível, não é muito agradável comparecer ao amor a cheirar a cozinha.
Parece que o dono tem poupado muito dinheiro no “ar condicionado”. Coitado. É de ter pena.
Pena? Têm as galinhas. Não se consegue estar lá dentro e o resto é conversa.
Comecei a naite, por conselho do Zé Nem… … ali no karaoke da Caetano de Oliveira.
Vai lá Tony. Aquilo pára sempre lá umas gajas boas, disse o Nem… …
A poucos metros reconheci, imediatamente, o Mário.
Com um papel na mão recordava a sua juventude no 25 de Abril:
“Quis saber quem sou,
O que faço aqui.”
Cantava ele, imitando o Paulo de Carvalho.
Já não tens idade pá. Gritei eu.
Mário fez sinal de “um minuto”.
Fugi. Ainda me vinha chatear com os Mamas & Papas.
Em seguida fui à casota que dá pelo nome de “Plastic”.
Nem queria acreditar.
A miúda mais velha tinha cerca de 14 anos.
São os tais pais modernos. Aqueles que se orgulham da educação que dão aos filhos.
Sempre tentei perceber o que faz uma garota de 14 anos às duas da manhã num bar.
Será que não existe polícia?
E o gerente do bar? Será que não tem qualquer responsabilidade?
É ponto assente que se um cliente quiser ter uma ideia muito definida sobre a qualidade de um estabelecimento de restauração, o primeiro passo que tem de dar é ir à casa de banho.
Uma casa de banho porca revela o cariz do dono do referido.
A do Plastic é um nojo. “Pintelhos” por todo lado, Já não devia ser lavada há 15 dias.
Logo que entrei no Plastic senti aquele ambiente próprio de sauna.
Um calor insuportável.
Eu acho que empresários como este são vigaristas, porque deveriam ter o ar condicionado ligado.
Assim é fácil. Para além de não gastarem dinheiro na sua instalação, manutenção e ligação, ainda obrigam os clientes a suar lá dentro e a consumir mais bebidas.
Até seria aceitável o último ponto não fosse dar-se o caso de que, hoje em dia, só se beber porcarias nas discotecas.
Passo a explicar.
Sou daqueles que acham que o Gin Tónico é a bebidazinha de Verão.
Foi isso que pedi no balcão.
Ao meu lado um grupo de rapazolas e miúdas, todas menores, bebiam algo a que comummente se chama “shot”, cuja composição é normalmente explosiva.
Trata-se de um cocktail de bebidas com alto teor alcoólico, que se misturam num pequeno copo.As quantidades têm de ser mínimas para evitar desastres.
O problema é que por serem baratos os shot’s são consumidos em grandes quantidades.
Como o efeito no corpo é retardado, só uma hora depois e após 3 ou 4 shot’s é que vem o disparo (shot).
É nessa altura que se vêm as miúdas a vomitar, como já foi o caso da filha do… …Bom! Não digo.
Pedi um Ginzinho Tónico.
A moça coloca uma porção de Gin num copo e depois abre uma garrafa de litro e meio de água tónica.
Ei, ei! Disse eu. Quero uma garrafinha de água tónica à parte. Gosto de beber água tónica.
Garrafinha num temos, disse a moça.
O quê? Essa água tónica já está choca.
Quando dizia isto aparece o dono, um careca com ar de segurança.
Eu acho que todos os seguranças são carecas, ou simulam.
É certo que um tipo com a cabeça rapada fica com um ar mais agressivo.
Um tipo careca que vá a um bar até pode nem ser segurança mas que fica imediatamente rotulado, fica.
Por via das dúvidas fui embora.
Tive receio de ter de lhe partir a tabuleta.
Na caixa diz-me o matraquilho que estava a receber o dinheiro que tinha de pagar o consumo mínimo.
Só coloquei o dedo indicador na testa.
Tu num sabes quem eu sou, meu!
O rapaz ficou cheio de medo. Até tive pena dele.
Já cá fora aspirei o ar puro do esgoto ali ao lado, o tal que manda as salmonelas para as praias.
Fosda-se! Que terra. Exclamei já desesperado.
Aparece outra vez o Zé Nem… …cheio de pressa.
Onde vais Nem?
Vou ter que ir embora. Uma gaja que controlo está à minha espera.
Agora? Às duas da manhã? Perguntei eu.
É. Foi a hora que eu disse que estava disponível.
Grande Nem… …!
Tony. Aparece no Dali Daki. Está porreiro aquilo. Eu controlo a situação.
Lá fui.
Quando entrei já lá estava o Nem, outra vez cheio de pressa.
Então Nem… … Não devias estar com a moça?
Hoje num posso. Já lhe telefonei. Mas aquilo é material controlado.
A primeira coisa que fiz quando entrei no Dali Daki foi ir à casa de banho.
Pior do que a do Plastic.
Aliás, aquilo nem se pode chamar uma casa de banho.
O próprio bar já é uma casota. Agora imagine leitor a casa de banho!
Um tipo tem que rodar sobre si próprio para fazer qualquer coisa.
Já estava toda vomitada.
Foram os shot’s, pensei eu.
Aliás, nunca percebi aquele ritual de consumo dos shot’s, em que se bate com os copos no balcão, roda-se à volta da cabeça e se bebe de uma só vez.
Uma vez tive para dar um estalo em meia dúzia, tipo dominó.
Nem cinco minutos fiquei no Dali Daki.
Na saída olhei para a pizzaria em frente.
Pensei:Tem o mesmo formato disto.
Será que a casa de banho também é como esta?
Imaginei logo pizzas, queijo derretido, orégãos, pintelhos e… ….Fiquei enojado.
Sempre me disseram:
Nunca comemores um acontecimento antes da data.
É hoje que o povoaonline faz dois anos de existência.
Tony Vieira
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