segunda-feira, 9 de março de 2009

entrenet ou enternet? a saga continua

Doro sabes como se diz mamas em inglês?

Hum?

Nocas. Num sabias pois não?

Hum hum hum hum hum!

Desde que acedeu à internet e visionou o já famoso filme de Milena Velba Zé nunca mais foi o mesmo. As noites mal dormidas com sonhos e pesadelos, o mau humor para com adversários e correligionários políticos tornou Zé um tipo intolerável. Até mesmo os velhos amigos de esquerdas, Zé Maria e Quim, evitavam a sua companhia.

Zé só falava de entrenet para cima e entrenet para baixo. A própria recandidatura estava em risco, dado que Zé já não conseguia articular uma palavra que não envolvesse nocas e entrenet.

A vida tornou-se difícil para Zé.

Entre adoptar uma postura estilo velho Lucas, um lutador contra a legalização do aborto, mas queria que a filha abortasse por ser mãe solteira, cujo objectivo de vida era combater toda a nudez,


Ou tornar-se um tarado sexual que colocasse a língua de fora sempre que visse aquele mulherão a caminhar na rua, Zé estava indeciso.

Se eu for o velho Lucas, de dia, e um tarado sexual, à noite, ninguém vai saber, pensou Zé.

Raios parta o Magalhães e a entrenet. Desabafou irritado.

Nas cerimónias públicas de atribuição de prémios Zé estava sempre de olho nas gajas. Imaginava coisas quando olhava para elas, ao mesmo tempo que cofiava o bigode farfalhudo que ainda guarda dos tempos do PREC.

Isto é um património da UNESCO, dava um centro histórico, dizia ele enquanto tirava mais um piolho.

Tendes quir prá entrenet pá! Gritou ele para um grupo de reformados, após abrir o vidro do automóvel conduzido por Doro.

Que foi home? Disse o mais velho deles.

Nunca vistes nada vós, seus marias moles!

Vai mas é trabalhar malandro! Respondeu-lhe o Gari.

Zé lembrou-se do Armindinho, um colaborador que era tarado por mulheres novas.

No dia em que a cidade estava a receber o prémio “Cidade Suja”, que Zé aceitou de bom grado, porque todos os prémios são bem-vindos, sussurrou para o Armindinho, enquanto olhava para as coxas da representante da Associação dos Arquitectos no Desemprego:


Armindinho! Já foste à entrenet?

Num é entrenet que se diz, é enternet, respondeu Armindinho tido por muitos como a voz da consciência do Zé, a intelectualidade que lhe falta, o saber filosófico arredado da sua formação, a sua sombra.

Enternet? Admirou-se Zé. É a mesma coisa.

Num é a mesma coisa. Entrenet num tenho, mas enternet já espalhei por toda a minha freguesia.

O quê? Admirou-se Zé. Tu tensje uma freguesia?

Tenho. E temos enternet por todo o lado.

E eu posso ir prá entrenet na tua freguesia?

Podes, mas tens que levar computador.

Antão tu num tens computador?

Tenho mas é meu.

E as outras pessoas da freguesia?

Ai isso num sei.

Antão pra que serve ter entrenet sem ter computador?

Serve pra dizer que tem enternet.

Eh eh eh! Este Armindinho é muito esperto. Conto contigo prás próximas eleições. Eh eh eh!

Eu é que conto contigo.

Zé dormiu mal a pensar no que o Armindinho queria dizer com esta frase.











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