segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

o simplex e o magalhães

Zé é um homem simples. Nunca perdoou ao Sócrates ter publicitado o “simplex” e não lhe ter agradecido publicamente sabendo de antemão que o simplex era ele.

Zé pertence à geração dos bigodes. Barba não. Mas bigode sim. Barba era muito comunista e Zé não é comunista. Bigode já poderia ter duas interpretações: ou era monárquico ou de esquerda. E Zé era de esquerda. Foi uma coisa que os amigos revolucionários, o Zé Maria e o Quim, lhe meteram na cabeça. Zé queria lá saber disso.

Sou um homem simples, disse ele para o Doro o motorista que o conduzia a mais uma reunião no Porto cujo conteúdo desconhecia.

Eles só de me verem assustam-se num é Doro?

Hum hum! Respondeu Doro.

Zé tinha verdete aos intelectuais. Aqueles que passavam a vida a aparecer na SIC-Notícias, comentando tudo e todos como se fossem reis do mundo.

O país está como está por causa destes gajos, pensava Zé.

Como é que estes gajos ganham a vida? Esta era uma dúvida que assaltava o pensamento do Zé, quase diariamente.

Ao contrário desses, Zé tinha solução para esta crise que atormenta as famílias. Nunca percebeu por que razão Sócrates, Cavaco e até a Leite não lhe telefonaram a pedir a receita milagrosa.

Fabricai euros e dai às pessoas pá! Disse ele exteriorizando a revolta interior.


Zé não sabia o que era o Magalhães. Na última cerimónia em que foi agraciado por uma associação de desocupados Zé pensava que a pequena estatueta que lhe ofereceram era o Magalhães.

Tanto banzé por isto, pensou ele.

Depois um amigo mais esperto é que o esclareceu. Magalhães era um computador.

Antão vão dar um computador às criancinhas? Elas só vão querer ver filmes pornográficos e outras porcarias, exclamou ele para o Quim, homem avisado, bom conselheiro, sensato e de esquerda como o Zé.

Quando vires o Magalhães vais-te apaixonar, disse o Quim.

O quê home?!?! Zé sentiu-se indignado e ofendido na sua imagem de homem viril e machão, o típico português que lança o olho sempre que vê um rabo de saia.

No dia em que recebeu um Magalhães que era destinado à Escola, mas ele desviou, como já havia desviado tantas outras coisas, Zé sentiu-se um garoto, mais garoto do que já era normalmente.

Eh! Eh! Eh! Riu-se duplamente de satisfação. Um brinquedo, em primeiro lugar, de borla em segundo.

Apesar de simples Zé considerava-se genial. Os outros até podiam não achar, mas ele estava-se marimbando para os outros. O povo gostava dele.

Zé, pela calada da noite e quando a mulher já dormia, foi abrir o Magalhães.

Poreiro, poreiro! Disse ele enquanto levantava as mãos num gesto triunfal.

Ora vamos cá pôr: “Mamas grandes”. E ver o que isto dá.

PÁ! O TEU PAI SABE QUE ESTÁS AQUI?

Apareceu no ecran de repente.

Zé borrou-se de medo. Pensou que o tinham apanhado a roubar o Magalhães.

Carago! Nunca me apanharam em nada e apanham-me logo a ver o Magalhães, pensou ele intrigado.

Avançou.

Tchei tanta mama grande. Disse Zé. Eh eh eh! Espectáculo.

Deixa-me ver este vídeo:



Zé adormeceu. Zé é dos tempos em que se ia para a cama às 10 horas da noite. Foi traído pela tradição.

Mas lembrava-se do que tinha visto. Era o que ele sempre tinha sonhado, mas nunca conseguido.

Havias de ver Doro! Aquilo devia ser em Milão.

Hum hum? Respondeu Doro.

Era. Pela cara dela. Ninguém lhe ligava e ela a limpar a motoreta. É só homens sexuais lá em Milão, Doro.

Hum?

Aquilo era bom pra ti que nuca comeste ninguém, eh eh eh!

Também podia ser Tóquio, só que ela num era chinesa, pensou com os seus botões.

Tenho que me dedicar mais às pessoas.

Pensou Zé.



















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